Conforme solicitado #60
Awesome people newslettering together
Chegamos num ponto da trajetória da internet em que newsletters são pra nossa geração mais ou menos como filhos eram pra geração dos nossos pais – todo mundo parece ter ao menos uma, tem gente que tem tem duas, tem gente que tem três mas você não sabe como elas conseguem dar conta - parece bastante coisa, cara. E bem, newsletter também exige compromisso, newsletter também dá trabalho e também tem gente que abandona newsletter, mas não é bem esse o assunto.
O lance é que nessa semana, além de te lembrar que newsletterismo de qualidade exige recursos e te convidar novamente para fazer aquela assinatura simpática e se tornar um patrono das artes, um mecenas das letras, um augusto financiador dos guerreiros da prosa contemporânea – todos títulos que ficariam excelentes em qualquer cartão de visitas – nós decidimos também divulgar as newsletters que nós acompanhamos, os autores e autoras que nos fazem sorrir, chorar, ou apenas ler até o final um texto de mais de 3 páginas, algo que não é todo mundo que consegue, vamos admitir também. Então vem que vem quicando com a gente nesse que será o maior abre da história da Conforme, pois também é dica e ouso dizer, também é artigo.
Sugestões do Gabriel:
Systematic Hatreds é uma newsletter assinada por Paul Musgrave, um professor de Ciência Política especializado em Política Externa e Relações Internacionais. São textos longos e profundos, mas escritos com a fluidez literária de quem tá interessado em uma audiência ampla, para muito além da academia.
Here’s Something é a newsletter do Eli Grober, um escritor e satirista genial, que colabora com a New Yorker e com a mcsweeney's. O humor do bicho é uma atualização daquela primeira geração de satiristas americanos do início do século XX: E.B. White, James Thurber, você sabe.
prato feito é a newsletter do Mateus Habib, na qual ele discute, a princípio, gastronomia, mas sempre com o filtro da sua sensibilidade única sobre as coisas. é das minhas newsletters favoritas do mundo — tem cheiro de almoção de domingo na casa de vó e de chope com empadinha no Caranguejo de Copacabana com os amigos.
Sugestões do Arnaldo:
Tá todo mundo tentando é o depósito de textos da Gaía Passarelli, e é um espaço bem eclético com contos, crônicas e dicas do que fazer em São Paulo. Ela escreve bem demais e talvez eu esteja chovendo no molhado porque não conheço ninguém que já não siga, mas não custa nada reforçar.
Aliás me dei conta de que 80% das newsletters que sigo são escritas por mulheres, que estão voando nesse setor, reiterando a noção de que os homens estão perdidos demais pra conseguir refletir sobre o seu papel no mundo. Sou fã das opiniões e textos de ficção da Olivia Mendonça na Vidinha nada fácil, do mau humor bem trabalhado da Taize Odelli no Sou meio vagabunda, mas sou boa pessoa e a (muitas vezes hilária) falta de joie de vivre da Marie Declercq em Não prometo (absolutamente) nada.
E pra terminar, a newsletter do desenhista Jason Latour, que faz quadrinhos deslumbrantes para lembrar histórias e comentar atualidades e o substack do Kareem Abdul-Jabbar, um gigante (piada idiota, foi pivô dos Lakers durante quase vinte anos) que escreve sobre absolutamente tudo tão bem quanto jogava basquete.
Sugestões do João:
“Big” é a newsletter do Matt Stoller, toda dedicada a discutir a questão dos atuais monopólios - e tentativas de monopólio - principalmente no mercado americano, e o que pode ser feito para acabar com eles e permitir que todas as áreas econômicas não fiquem nas mão apenas um ou dois bilionários. Parece muito chato, eu sei, mas é bem interessante e te faz sentir ainda mais raiva de empresários.
“The #Content Report”, é escrita pelo Vince Mancini, um crítico de cinema que eu acompanhava num blog antigo, o FilmDrunk, e aí o blog foi anexado pelo Uproxx e aí ele sumiu e eu fui pesquisar onde o cidadão tinha ido parar e vi que ele estava aqui no Substack, tentando alimentar o filho pequeno com resenhas de filmes, discussões sobre cinema e análises dos rumos da indústria de entretenimento. Quer dizer, ele quer alimentar a criança com o dinheiro gerado por essas coisas, ele não imprime a resenha e dá pra criança comer, ele nem é maluco.
Novas aventuras na era do Close Friends
João Luis Jr (Medium: joaoluisjr)
D2 mas manter o sigilo: é complicado definir todos os elementos que formam uma amizade. Algumas são forjadas através de tempo e convívio diário, da presença em que, com o passar dos dias, meses e anos, tal pessoa se torna uma constante na sua vida, uma espécie de porto seguro onde você sabe que pode se ancorar. Da mesma maneira outras são fruto do imponderável, de encontros imprevistos, de momentos extremamente específicos, em que dois seres humanos podem se tornar distantes geograficamente mas sempre irão se manter próximos onde importa, que é no coração.
Existem amizades que nascem de interesses em comum, outras que nascem da atração complementar dos opostos, amizades que parecem óbvias, amizades que parecem improváveis, algumas são até mesmo complicadas de justificar. Mas uma coisa, uma constante, existe em todas elas: a confiança. E ainda que você realmente nunca tenha se considerado tão próximo dele, é visível que o ex-namorado daquela sua colega da firma realmente te vê como um grande amigo e confia bastante em você pra ter te incluído no seleto grupo de seguidores que podem ver todos os 15 stories em que ele está fumando um baseado terrivelmente mal-bolado e que parece ter as dimensões de um charuto cubano. E ele também tá usando uns comprimidos. Opa, parece que ele vai começar a cheirar alguma coisa agora.
Um acelerador de partículas de intimidade: é mais ou menos a versão moderna de zapear pelos canais de televisão, porém os canais não têm uma ordem clara e a programação varia bastante, bem rápido. O story de um amigo é criança fofa, aí uma colega de trabalho postou 3 stories de corrida, aí um cara que foi da sua sala no colégio postou 30 stories de viagem, são dez da manhã e você tá vendo registros confusos e desfocados do que parece ser uma balada num pesque-pague onde está tocando ou não Taylor Swift, não dá pra ter certeza.
Você está passando as imagens sem prestar atenção, votou sem querer em duas enquetes, está se sentindo um pouco culpado porque em uma delas a pergunta era “você quer ver mais fotos do meu gatinho?” e na tentativa de pular a tela você votou em “não, esse bicho imundo”. Fila de banco, tempo demorando pra passar, o pássaro do espaço pessoal já absolutamente morto e uma senhorinha quase colada no seu bumbum, olhando pro lado quando você olha pra trás. E é aí, exatamente aí, que surge aquela foto de cueca que seu amigo recém-divorciado decidiu postar no close-friends, fazendo com que a idosa solte um HMMMMMM, que te deixa um pouco desconfortável, causando o reflexo de pular o story, o que obviamente te faz enviar um coraçãozinho. Ninguém vai poder dizer que você não tá apoiando seus amigos.
Não é incoerência, é informação fragmentada: se o conceito de close-friends pudesse ser restringido em uma palavra, ela seria “segmentação”. Afinal, além da persona já artificial que você cria nas redes sociais, o recurso te permite criar outra, numa camada mais profunda, que você libera para apenas um grupo ainda mais restrito de pessoas – seja porque são próximas, seja porque tem sua confiança, seja porque não te incomoda se elas te virem com menos roupa. Meio que uma deep web de você.
E isso gera uma experiência fascinante que é acompanhar os pequenos conflitos e variações que surgem entre o conteúdo que é postado para todos os seguidores e aquele disponível apenas para essa parcela um pouco menor da rede. Você tem acesso a imagens de bar em horário de expediente, indiretas que não vai entender, fotos misteriosas de gente que está querendo criar suspense sobre estar pegando alguém e agora aparentemente você está acompanhando um colega que ontem postou um story aberto elogiando a firma porque ganhou um sonho de valsa realizar uma nova série de postagens reclamando do trabalho e agora ele está aparentemente ameaçando o chefe dele e ainda tem mais 3 stories pela frente e você não sabe se continua ou não porque pode acabar testemunhando um crime. A pessoa anterior tinha feito 4 stories sobre o divórcio da Sandy.
Pay for your sins
Arnaldo Branco
A política de Cangaço Novo
Gabriel Trigueiro (Instagram: gabri_eltrigueiro)
Antes de qualquer coisa, e para não restar qualquer dúvida sobre o que quer que seja, “Cangaço Novo”, a série nacional criada por Mariana Bardan e Eduardo Melo, e exibida na Amazon Prime, é excelente.
Assisti aos episódios e não me cansava de me encantar com a direção de arte impecável, com a qualidade da direção (não apenas, mas sobretudo das cenas de ação), no desenvolvimento da trama e na galeria de personagens.
Em “Cangaço Novo” vemos as convenções de um cinema de gênero (o western, que sempre “agoniza mas não morre”) a serviço de uma história e, mais do que isso, de um universo estético tipicamente brasileiro. É bonito de doer.
As cenas de flashback filmadas em P&B, no início dos episódios, é uma direção de fotografia de quem assistiu ao “Grandes Esperanças” de David Lean, penso agora na cena inicial filmada como um filme de terror numa atmosfera meio onírica etc, e em “The Night of the Hunter”, do Charles Laughton. Coisa fina demais.
De acordo com a sinopse oficial de Cangaço Novo,
Descontente com a vida e precisando de dinheiro para cuidar do seu pai adotivo doente, Ubaldo, um bancário sem memória da sua infância, recebe uma herança que mudará sua vida. Em Cratará, no meio do sertão cearense, ele se tornará o líder de uma perigosa gangue de assaltantes de banco, cumprindo o destino e o legado do seu pai biológico, um mítico cangaceiro.
Aqui começam os problemas. Não sei qual foi a intenção inicial da equipe criativa, mas “Cangaço Novo” é uma história baseada em uma ideologia reacionária. O fio condutor da narrativa é o “honra teu pai e tua mãe” bíblico.
Ubaldo, o personagem principal, interpretado por Allan Souza Lima, tem um arco de desenvolvimento que é pautado por um sistema de deferência e lealdade aos patriarcas de sua vida — em primeiro lugar ao seu pai adotivo moribundo e depois à memória de seu pai biológico.
Mesmo (aliás, sobretudo) no fim da temporada, compreendemos como Ubaldo basicamente reage, mesmo quando as nega ou confronta, às figuras de autoridade patriarcal que estão em sua vida.
Outra coisa é que a trama toda, sobretudo a trajetória de Ubaldo, se desenvolve a partir de uma lógica de “sangue e terra” — inclusive com demonstrações gráficas, e pra lá de in yo face, de cenas em que o bróder segura dramaticamente a terrinha entre os dedos, à moda de uma Scarlett O'Hara paulista, não à toa um personagem de outro filme reacionário, aliás.
“Cangaço Novo” é puro suco de um conservadorismo agrário quase freyreano. O substrato filosófico do negócio é uma exaltação à família, em seu modelo mais patriarcal, e aos valores reais do bom povo do campo, a ficção romântica do volk, se você preferir, em contraponto à artificialidade cosmopolita e à tibieza moral da cidade.
A política de “Cangaço Novo” é uma utopia reacionária baseada em valores rurais, na celebração de um modelo de auto-organização da sociedade em milícias e no recurso à violência numa lógica meio get rich or die tryin'.
Assim, não me entenda mal. Não tenho pessoalmente qualquer problema ideológico com a política de “Cangaço Novo”. Quem disse que uma história ou que seus personagens têm que ser progressistas?
Argumentar isso seria um filistinismo muito do faixa branca, eu hein. O que me interessa aqui, sempre e absolutamente sempre, é apenas chamar as coisas pelo nome. Comigo não, violão.
Abandono parental
Arnaldo Branco (Instagram: @arnaldobranco)
Nossa vida pode ser resumida pelo rastro gigante de projetos abandonados que deixamos pelo caminho, misturados aos que a gente conseguiu concluir de maneira insatisfatória. Abaixo vão três ideias que pensei em desenvolver mas que em um surto de lucidez resolvi jogar fora — aqui, no meio desse terreno baldio virtual, pra vocês poderem conferir como a minha atitude foi sensata.
Canal de react “Sem reação”
A diferença entre gerações me impede de apreciar vídeos de react, mas pelo menos é um conteúdo que, diferente de coisas como lives de pessoas jogando videogame, dá pra entender um pouco o apelo. Afinal, a gente nunca mais vai conseguir recuperar a sensação de apreciar uma música, ou mesmo algum conteúdo idiota, como uma tour por uma mansão de famoso, pela primeira vez — e assistir alguém na internet passando pela experiência é uma forma de reaver uma migalha desse sentimento através de outro olhar.
Não é a toa que a gente gosta de mostrar livros, discos, filmes etc para amigos e depois ficar que nem um gárgula em cima do ombro deles esperando um parecer. Mas meu grande problema com os reacts é que a maior parte deles é bem decepcionante. Noventa e nove por cento desse material consiste no cara pausando o vídeo pra dizer o equivalente retórico a “uau” ou “aff” — isso quando não usam exatamente essas interjeições.
Acho isso perdoável, até porque a minha reação para coisas bacanas que vejo em primeira mão costuma ser bem parecida — fico processando a experiência mais no nível da emoção, internamente; a elaboração vem depois. Mas por isso mesmo não me sinto culpado por não consumir vídeo de reação; pra ouvir gente dizendo “que coisa, hein” qualquer fila de padaria serve.
Então meu canal de react seria basicamente sobre avaliar esses youtubers sem muita coisa pra dizer e ficar ridicularizando suas expressões de espanto e seus comentários que não acrescentam porra nenhuma à experiência, tipo “foda”. E sei que vai ter público porque ser babaca na internet dá audiência.
Podcast “Desculpa pelo Podcast”
Muitas vezes a gente pensa em elaborar um assunto, escrever uma pensata sobre algo muito específico — por exemplo, sobre como a Luíza Sonza mandando a galera ouvir Cazuza e Cassia Eller para poder “entender seus raciocínios” se conecta com o caso do Jann Wenner, o editor da Rolling Stone que caiu em desgraça porque lançou uma coletânea de entrevistas sem nenhuma mulher ou artista negro porque, segundo ele, não são bons em articular o que pensam sobre o próprio trabalho. Sério, cheguei a escrever dois parágrafos — mas não dá pra ganhar todas e eu tenho uma tonelada de tarefas e essa newsletter pra concluir.
O que fiz então? Aproveitei que alguém em um grupo de whatsapp esbarrou num assunto levemente relacionado para resumir — resumir é modo de falar, o áudio ficou com nove minutos — de forma meio porca o meu argumento. Tudo bem que o grupo só tinha doze pessoas, foi feito na intenção de organizar um aniversário surpresa e ninguém esboçou nenhuma reação a não ser por um sujeito que marcou meu áudio com um emoji de carinha com a mão no queixo pensando — que eu nunca vi ninguém usar senão ironicamente.
Esse seria o meu podcast, feito com ideias que não tive tempo de desenvolver direito, defendidas em audios desnecessariamente grandes e com as pausas e as gaguejadas de quem está lutando para lembrar do que estava falando. Certamente uma receita de sucesso.
Live NPC “Não é live”
Se você não sabe o que é live NPC aqui tem um atalho.
Pra mim qualquer pessoa com coragem pra encarar uma câmera e falar, como se fosse um maluco trepado em um caixote no centro da cidade, só que se dirigindo para um público potencial de milhares e até milhões de pessoas, é alguém dotado de super poderes. Se um cara consegue fazer um story no instagram sem travar, comparado a mim esse sujeito já é um Silvio Santos. Portanto na minha escala de humilhação fazer uma live NPC tá no mesmo nível de fazer uma videochamada com mais de uma pessoa. Se eu tivesse coragem, faria amarradão.
Mas como não tenho, minha live não poderia ser feita ao vivo. Então a ideia seria: primeiro vocês mandariam o dinheiro, depois eu postava o vídeo me humilhando. Pegar ou largar.
Vai na minha
Dicas de consumo do pessoal da redação
Nostalgia alheia
Arnaldo Branco
Tenho um pouco de preguiça da expressão “saudade do que eu não vivi” porque acredito que já é bastante trabalho lidar com a saudade do que a gente viveu. Ou pior, com a saudade do que a gente deixou de viver porque tava mal informado na época e perdeu o rolé, ou achou que já não tinha idade ou roupa pra frequentar etc. A vida é um armário cheio de fantasmas.
Mas um documentário me fez sentir nostalgia alheia, como se eu fosse um replicante com memórias implantadas: “Chic Show” (Globoplay, 2023) sobre a equipe de som que conduziu, a partir de 1968, um dos bailes de música negra mais importantes do país, em vários logradouros de São Paulo. Menos conhecido que sua contraparte do Rio de Janeiro, o Movimento Black Rio, marcou época e formou uma geração de artistas que se recusam a deixar seu legado cair no esquecimento, e usam seus depoimentos para resgatar momentos históricos do empreendimento de Luiz Alberto da Silva, o Luizão.
Mano Brown, Ice Blue, Thaíde, Sandra de Sá, Carlos Dafé e vários outros lembram da sensação do orgulho de pertencer a uma cena que abraçava sua negritude e devolvia seu orgulho, e lembram de eventos como o das apresentações de Tim Maia e Jorge Ben, o primeiro show de James Brown no Brasil e um dos grandes (e insuspeitos) divisores de águas da música brasileira: a vinda do rapper Kool Moe Dee, que foi uma das faíscas que aceleraram o estabelecimento da cena hip hop nacional. E de quebra os bailes da Chic Show serviram de incubadora para o pagode paulista dos anos 90.
Centrado no depoimento do próprio Luizão, que conversa com seu filho e seu neto sobre tudo que passou nesses anos, “Chic Show” é carregado de emoção e carinho e é um grande testemunho do poder transformador da arte — e da força do empreendedorismo negro.
Hollywood sobre Hollywood
Gabriel Trigueiro
A dica de hoje é “Silent Movie”, o filme de Mel Brooks de 1976. A premissa é tão simples quanto maravilhosa: um estúdio chamado Big Pictures Studio (pois é) está entre a falência e a venda para o conglomerado Engulf & Devour (pois é 2), quando o diretor Mel Funn (Mel Brooks), cuja brilhante carreira foi interrompida por seu alcoolismo, sugere à Big Pictures uma solução maluca para escapar da bancarrota: um filme mudo com os maiores astros e estrelas da época.
“Silent Movie” se inscreve na mesma tradição de filmes como “Crepúsculo dos Deuses” — Hollywood zoando Hollywood. Só que em vez do humor cínico de Billy Wilder, entra um exercício estilístico formalmente maravilhoso de uma comédia pastelão e, além de tudo, (quase) muda.
O filme de Brooks funciona como uma coleção de esquetes individuais mas também como uma história organizada a partir de uma estrutura narrativa convencional e linear de três atos.
Não acho que seja exagero afirmar que “Silent Movie” é tranquilo uma das melhores comédias já filmadas. Assista lá e, quando puder, me diga se é exagero.
É tirinha de cachorro armado, gato espacial e rato fumando
João Luis Jr
Um dos lances fascinantes da internet é que nela tem muita coisa. Assim, muita, muita coisa. Tem artigo longo, tem tuite, tem vídeo, tem música, tem oração pra todo tipo de santo, tem pornô com palhaço, tem gente brigando em comentários de receita de torta de abacaxi, tem caixinha que se você clicar fazem um empréstimo consignado no nome da sua falecida avó sem você saber. Como eu disse, tem muita coisa.
E ao mesmo tempo, em função de lances que vão desde o processo capitalista até a operação do algoritmo (que também é parte do processo capitalista) e a pressão social (que, bem, também é parte do processo capitalista) nós todos acabamos vendo mais ou menos as mesmas coisas. Num certo grau todo mundo está falando dos mesmos filmes, acompanhando as mesmas séries, discutindo os mesmos livros.
Mas ainda assim, sempre tem alguma diferença. Sempre tem alguma coisa que pra você é óbvio que todo mundo conhece mas nem tanta gente tá sabendo, um lance que tu considera velharia mas que poderia ser novidade pra outra pessoa, uma coisinha que você tem tanta certeza que já comentou com todo mundo que na verdade nunca nem mencionou.
Pensando nesse risco, de ainda existir alguém que não conhece uma coisa que pra mim deveria ser universal, que eu venho aqui recomendar Poorly Drawn Lines, a série de tirinhas do cartunista Reza Farazmand, que já foi publicada em duas coletâneas (“Good Ideas and Amazing Stories” e “Comics for a Strange World”) e são algumas das coisas mais brilhantes que temos hoje nessa imensa internet. Sério, eu acredito que você conheça, mas se você não conhecer, por favor, se faça o favor de prestigiar o gênio que criou isso aqui: